A minha missão

Foi com grande entrega que parti para missão no passado mês de Agosto de 2009 para a cidade de Chapadinha com o Grupo Missionário João Paulo II. Lá éramos esperados por um povo que nos recebeu de braços abertos e pelos Missionários da Boa Nova.
Para primeira missão fora do país não tinha qualquer expectativa havendo só um sentimento de entrega a todos os que se cruzassem durante aquele tempo, tentar fazer como Cristo. Fui à descoberta de qualquer coisa que me faltava junto de todos aquelas pessoas que nos aguardavam. Pairava alguma ansiedade mas que rapidamente desapareceu com o iniciar da missão.
A viagem foi longa e um pouco penosa mas logo que chegamos a terra deparei-me com uma realidade muito diferente em tradições e custumes, um povo igual a si mesmo.
O calor era imenso, algo que custou a habituar a apanhar o ritmo bem como o tipo de alimentação, da qual gostei imenso (também da carne de sol).
Ao contactar com as populações, em visitas domiciliarias, deparei-me que alguns rostos retraídos e com algum medo (medo de represálias) de denunciar injustiças, medo esse por quem tem poder e por isso poucos são os que têm coragem de enfrentar as situações de injustiça social que está presente todos os dias na sociedade, principalmente na corrupção política à descarada.
Custou também saber que muitas meninas vendem a sua dignidade ..... a troco de nada. Quase sempre por quem tem algum dinheiro e faz promessas descabidas e sem sentido e a ingenuidade leva a acreditar em tais promessas. Ou então num forró onde só pára a bebedeira e se perde os sentidos e alguém aproveita esse facto.
Muitas jovens são mães muito novas e por vezes cometem os mesmos erros mais do que uma vez acreditando nas tais promessas irrealizáveis.
Fomos apoio para algumas destas pessoas e um sorriso destes rostos foi o melhor que se podia ter, apesar das dificuldades que passavam. Alguns ganharam coragem para enfrentar a vida e molda-la de forma a vencê-la.
Um dos pontos altos da missão foi ir ao encontro das povoações que vivem no interior, a algumas horas da cidade por caminhos muito degradados onde ainda não existe a electricidade e mal se apanha a frequência de rádio a pinhas. O trabalho na roça e a pesca em rios/ribeiros é o único sustento para praticamente todas as famílias. Vivem a celebração da eucaristia de uma forma muito festiva, reúnem-se às dezenas vindo também de aldeias vizinhas aproveitando ao máximo tudo o que Deus nos transmite através da sua palavras, visto que só têm duas eucaristias anuais devido ao elevado número de comunidades existentes no interior e à escassez de sacerdotes. E muito fazem os Missionários da Boa Nova, o P. Casimiro com 70 anos e conhece cada carreiro naquela imensidão de floresta.
Na cidade a luta é viva com o P. Neves e o P. Pedro contra as injustiças sociais de uma forma tão intensa que só pode ser por amor a todo aquele povo. Cada dia tem mais um "confronto" e por vezes nada fáceis. Dá vontade de ficar a lutar com eles, mas só poderemos encorajar e ajudar no possível.
O trabalho junto das comunidades, entre visitas domiciliária, aulas de música (canto, flauta e viola) na preparação para a festa do padroeiro São Raimundo, desenvolver um pequeno workshop na pastoral da saúde, reunir com o grupo dos vocacionados, visitar os doentes e fazer alguns tratamentos possíveis, etc... foi alguns das actividades que o grupo desenvolveu.
Estivemos a trabalhar mais focalizados na comunidade de São Raimundo, estando sempre presente nas Eucaristias Dominicais, na meditação do terço que se passou a rezar todos os dias e que se seguia de Eucaristia. De início havia meia capela e à medida que os dias passavam esta ia enchendo, chegando ao ponto de não haver lugar dentro da capela para tanta gente. Deus chamou todo aquele povo ao seu encontro batendo de porta em porta ao qual abriram as suas portas e foram ao encontro d'Ele ouvindo o seu chamamento.
Nestes rostos podia ver-se que existe uma grande fé em Deus, as pessoas vivem com alegria na oração e transmitem-na de pais para filho, entre amigo e vizinhos, falam abertamente em Deus sem medos e receios.
Apesar de viverem "um dia de cada vez" e privados de muitos bens essenciais entregam as suas vidas de uma forma exemplar a Deus, transmitem uma fé nas suas acções.

Foi uma ocasião única poder estar com todas aquelas pessoas durante aquele mês onde pude aprender muito com todos eles. Só foi possível este encontro com os rostos de Deus com a ajuda de todo o Grupo, sem cada um deles nada tinha o mesmo significado.

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