Por entre os ritmos acelerados das motos que sobem e
descem a ladeira do Bairro Novo, e por entre um calor escaldante, aqui estamos em Chapadinha para mais uma missão JP2. Neste ano foi-nos confiado pelo
pároco, Padre Neves, um trabalho de Evangelização porta-a-porta no Bairro Novo
e Bairro Nossa Senhora de Fátima.
Socialmente estes bairros são
duas realidades complexas, eclesialmente são um desafio muito interessante:
muitos jovens e crianças, uma comunidade pobre, simples e disponível para
crescer na fé e na esperança, com um grupo de cristãos atentos e empenhados em
“mudar a face desta terra”.
Em cada manhã percorremos, acompanhados por crianças,
jovens e adultos, as ruas do bairro. Entrar em cada casa é a experiência de
encontrar ali o “Cristo que nos espera”, seja no acolhimento simples e franco
das pessoas que nos recebem com uma alegria imensa, seja na partilha de
experiências e histórias de vida tão marcadas pelo sofrimento, pela extrema
pobreza, pelos dramas do alcool, da droga, etc...
Neste “encontro de cada manhã
com o Cristo Vivo” sentimo-nos pequenos para tão desafiadora e difícil
missão. Na arte de escutar, de abraçar ao jeito d’Ele cada pessoa e cada
história, percebemos os dramas de quem habita uma terra cheia de possibilidades
mas que ao longos dos anos tem sido anestesiada por políticas públicas
manchadas de corrupção e de interesses instalados que não permitem que a maior
parte da população viva de um modo digno, saudável e feliz.
Diz o poeta que “mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades”, e aqui, em contexto de ano político de eleições
para a prefeitura, estas palavras enquadram-se na perfeição! A cidade cresce a
um nível avassalador, sem regras, sem um projecto de planeamento que ajude a
população a atingir um nível de desenvolvimento desejável, no entanto não
faltam nesta ocasião “promessas para todos os gostos”; Nos bairros por onde
andamos vê-se por todo lado pintada nos muros “a doce ilusão das promessas de
um futuro muito melhor” no entanto, durante os últimos anos quem
governou...governou-se, e quem agora aparece como “salvador da pátria”...esteve
mudo e à espreita de uma ocasião para prometer o que não pode cumprir, e assim tentar ganhar “o leme do governo”.
Desde a última eleição que a
ÚNICA VOZ PROFÉTICA que semanalmente interpelou, desafiou e se colocou ao
dispor para encontrar soluções que dignifiquem este povo, seja através do
boletim paroquial, seja através da formação dos agentes pastorais ou das
propostas de crescimento na fé ou seja através de outras iniciativas pastorais,
foram os Missionários que aqui se encontram há mais de 30 anos. Esses sim,
visitaram os doentes em suas casas e reclamaram por melhores condições na saúde
para toda a população; alertaram para o lixo que se acumula nas ruas dos
bairros, para as condições indignas em que vivem muitas famílias, para a
importância de uma proposta adequada para o crescimento autêntico, nos valores
e na educação, das crianças, adolescentes e jovens desta cidade; promoveram
iniciativas em defesa da vida e da família, alertaram para o bom uso dos
dinheiros e dos bens públicos...e no entanto foram ignorados,
incompreendidos...e até, por alguns, amaldiçoados!
Mas viver o Evangelho é assim
mesmo, é não se deixar acomodar, é perceber-se em cada amanhecer como um discípulo-profeta-missionário
do Pai “enviado para sarar os corações atribulados” que não se pode
calar diante da injustiça, da exploração e da indignidade a que quem tem poder
costuma, habitualmente, votar os mais pobres.
E assim se passou a nossa
primeira semana!
Acreditamos, sonhamos e queremos
colaborar num futuro melhor para esta terra.
Sabemos, olhando sobretudo as
novas gerações, que o futuro pode ser melhor, muito melhor e muito mais digno,
e estamos certos que os jovens vão ter, nesta missão de “renovar a face desta
terra”, um trabalho fundamental, indispensável. Olhamos por isso para eles com
grande esperança e, na partilha, na amizade e nas propostas que lhes fazemos
queremos sobretudo vê-los a “fazer brilhar os muitos dons que Deus plantou nos
seus corações”.
Por entre o frenesim enganador
das músicas de campanha política que pululam, desde o amanhecer até à noite, as
ruas da cidade com uma constante “poluição de promessas” e com um ruído, tantas
vezes, ensurdecedor, o nosso trabalho simples de visitar as famílias e os
doentes, as nossas “aulas” de música e de canto com as crianças, adolescente e
jovens, as “aulas” de desenho e pintura e outras actividades (jogos, etc...), os
encontros com os jovens e às celebrações eucarísticas nas comunidades vão
acontecendo e cá vamos caminhando com a firme certeza do Evangelho: “o
que fizerdes aos mais pequeninos do Reino é a Mim que o fazeis” (cf. MT
25).
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